quinta-feira, 5 de março de 2009

Produção Plástica dos Insanos e a

ARTE DEGENERADA.


Muitos já sabem mas para aqueles que desconhecem, estou cursando o último ano de Licenciatura Plena em Artes, e ao longo do curso me identifiquei com o fato de trabalhar a arte como terapia, meu Trabalho de Conclusão de Curso diz respeito a arte terapia e como esta pode promover uma boa saúde mental a pessoas com transtornos mentais. Estou em fase de pesquisa e tenho encontrado muitas fontes interessantes e gostaria de compartilhar com vocês.

Uma dessas fontes foi a dissertação sobre "Arte e Doença Mental" de Silva, onde ao relatar sobre a produção artística e a psiquiatria, em um ou dois parágrafos, Silva relembra a forma com que a produção de insanos foi utilizada pelo nazismo.

E então resolvi postar um pouco sobre Entartete Kunst (Arte degenerada), segundo a enciclopédia do Itaú Cultural.

"Em 19 de julho de 1937 é aberta na cidade de Munique, na Alemanha, a exposição que marca o ápice da campanha pública do regime nazista contra a Arte Moderna: a mostra internacional "Arte Degenerada". Organizada pelo presidente da Câmara de Artes Plásticas do reich (...), a exposição reúne cerca de 650 obras entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e livros, provenientes de acervos de 32 museus alemães, consideradas artisticamente indesejáveis e moralmente prejudiciais ao povo pelo governo nacional-socialista alemão(...), liderado por Adolf Hitler.

Os nazistas classificam como "degenerada" (entartet) toda manifestação artística que insulta o espírito alemão, mutila ou destrói as formas naturais ou apresenta de modo evidente "falhas" de habilidade artístico-artesanal.

Em 1928, utilizando-se das idéias de Nordaus, o arquiteto e teórico racista Paul Schultze-Naumburg publica o livro Kunst und Rasse [Arte e Raça], no qual aparece pela primeira vez a associação da arte moderna com o termo entartet. O autor coloca lado a lado fotografias de pessoas deformadas ou doentes mentais e pinturas de importantes artistas modernos como Amedeo Modigliani (1884 - 1920), Karl Schmidt-Rottluff (1884 - 1976) e Otto Dix (1891 - 1969) a fim de provar visualmente o caráter "degenerado" da produção moderna. Assim, quando Hitler passa a governar o país, em 1933, o uso dos adjetivos "degenerado" e "sadio" já está suficientemente estabelecido no meio cultural como norma de diferenciação entre a arte de vanguarda e a arte tradicional.

A campanha nazista contra a arte moderna começa com a tomada de poder. Em 1933, Hitler fecha a Bauhaus e promove a primeira exposição difamatória da arte moderna em Karlsruhe e Mannheim. Segue-se a cassação de diversos curadores, diretores de museus e artistas-professores como Willi Baumeister (1889 - 1955) e Otto Dix.
Livros são queimados em praça pública e inicia-se um verdadeiro processo de expropriação arbitrária pelos nazistas dos acervos dos museus: mais de 16.500 obras de arte consideradas degeneradas são confiscadas, muitas das quais foram destruídas ou perdidas. Obras de valor - como Auto-Retrato (1888) de Vincent
van Gogh (1853 - 1890) ou Acrobata e Jovem Arlequim (1905), de Pablo Picasso (1881 - 1973) - são vendidas num leilão em 1939 na Galeria Fischer, em Lucerna, Suíça, e revertidas em divisas para os nazistas.

Nota-se que o comportamento político ou religioso dos artistas passa a não importar, sendo perseguidos todos aqueles identificáveis com qualquer corrente oposta às diretrizes artísticas nacionalistas e de cunho realista estabelecidas pelo governo.



Na mencionada exposição de 1937, em Munique, são apresentados trabalhos tanto dos expressionistas alemães quanto de Henri Matisse (1869 - 1954), Picasso, Georges Braque (1882 - 1963), Piet Mondrian (1872 - 1944), El Lissitzky (1890 - 1941), Paul Klee (1879 - 1940), Marc Chagall (1887 - 1985), Wassily Kandinsky (1866 - 1944), Otto Dix, Max Ernst (1891 - 1976), George Grosz (1893 - 1959) e outros.

Lasar Segall (1891-1957), que emigra para o Brasil em 1923 e naturaliza-se brasileiro, é representado com seis trabalhos, dos quais apenas
dois podem ser vistos ainda hoje. Sucesso absoluto de público (mais de 2 milhões de visitantes), a exposição viaja por diversas cidades alemãs e austríacas até 1941.


Enfim, dessa vez AINDA não vou colocar em meu blog o que penso sobre tudo isso vou ser mais imparcial...mas gostaria de terminar esse post com um trecho do livro "O que é Loucura" de

João Augusto Frayze Pereira e como de costume algumas indicações.


“Com efeito, crer numa loucura localizada no indivíduo e emprestar ao louco uma vestimenta que o transfigura em monstro não só tende a retirar-lhe o estatuto de humanidade, como também a nos fazer esquecer que algo se diz através da loucura.” (PEREIRA, 1949, p.11)".




FONTES:

SILVA, José Otávio Motta Pompeu. Arte e Doença Mental.


http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=328


INDICAÇÕES:


FILME: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO, direção Peter Cohen.

LIVRO: O MUNDO DAS IMAGENS, Nise da Silveira.

3 comentários:

KeLeBeK disse...

oi van... mto legal esse post...por acaso vc ja leu Elogio da Loucura (Erasmo de Roterdan)? se n, acho q vai gostar...
bjs

Anthus da Geb disse...

Olá Van!

É sempre um prazer encontrar uma colega de profissão nesse ambiente blogosférico.
Eu conclui Educação Artística em dezembro de 2008...sei muito bem como é essa fase angustiante do TCC. Te desejo sorte.
Interessante o tema que você decidiu pesquisar. Foi muito bom você ter citado Nise da Silveira, ela fez um trabalho admirável e além disso, ela era um ser humano com uma consciência expandida, por isso tudo que ela fez foi e continuará sendo importante.
A Lygia Clark também trabalhou na idéia da arterapia...isso você deve saber, é claro.
Vá firme com sua pesquisa!
E caso você precise de algo é só entrar em contato..é sempre bom contar com os colegas da área.

Um forte abraço e Boa Sorte!

Anthus da Geb disse...

Eu sempre achei interessante o modo como as coisas se processam na cabeça dos doentes mentais...é incrível o que ocorre por lá!
A produção plástica deles é só um vislumbre de tudo o que ocorre em suas mentes. Parte daquele universo é materializado em forma de arte...e acho que tudo que eles colocam para fora ainda é muito pouco.
A diferença deles para os artistas sanos é que eles não se angustiam por não poder colocar tudo numa tela ou em um papel. Ou até se angustiem, mas de uma forma bem diferente daquela sentida pelos de mente sã.
Por que Van Gogh se angustiava tanto?(pode ser clichezérrimo citá-lo, mas é o drama mente-arte mais famoso!) Talvez porque algo o impedia de externalizar toda a sua torrente de emoções...não sei...é como se houvesse uma barreira, não algo interno, mas algo externo...é um segredo que ele levou consigo para o túmulo.

Um abraço!